Em recente artigo escrito para GZH, Fabiano de Marco resgata a expressão “balé das calçadas”. A ativista e jornalista americana Jane Jacobs, uma das mais respeitas urbanistas da história, cunhou essa expressão para retratar a coreografia diária (e nada ensaiada) performada pelos vizinhos que se encontram, o movimento nas lojas, padarias e farmácias, os proprietários dos estabelecimentos varrendo a calçada, aposentados sentados na praça jogando conversa fora, as crianças brincando enquanto os “olhos da rua” as vigiam.
Neste momento em que se vive uma pandemia e se discute os seus impactos na vida das pessoas sob diversos aspectos, as comunidades / bairros / vizinhanças tendem a se fortalecer com esse “balé das calçadas”. Ir até a padaria da esquina, caminhar com o cachorro até a pracinha (e encontrar todos aqueles vizinhos, que acabam virando amigos e que também têm cachorro), comprar picolé para as crianças do senhor que passa todos os dias no mesmo horário, tomar um chimarrão na calçada no fim da tarde são ações que contribuem para que a “dança” aconteça.
Essa sincronia de dançarinos encoraja, revigora e sustenta a economia local, que faz a vida diária acontecer, contribuindo com a manutenção dos negócios, dos empregos e da qualidade de vida da própria comunidade. Também fomenta a sustentabilidade e encurta distâncias logística e entre pessoas. O autor afirma que “é passada a hora de enxergarmos o comércio local como uma espécie rara, em extinção, e dedicar a ele todos os cuidados que merecem as espécies ameaçadas.”
Mesmo que o estabelecimento precise fechar por imposições relacionadas à prevenção do coronavírus, o relacionamento entre as pessoas da vizinhança facilita a busca de alternativas (ou até mesmo de apoio e suporte emocional, psicológico), minimizando os impactos negativos. Quem já precisou de uma xícara de farinha ou açúcar emprestada para finalizar uma receita sabe do que estamos falando.
Para refletir:
Quantos estabelecimentos comerciais existem no quarteirão da sua casa?
Em quantos desses estabelecimentos você tem o hábito de comprar?
Você conhece os proprietários ou as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos?
Você conhece quantos vizinhos? Quais os seus nomes e com o que trabalham? Foram diretamente impactados, de alguma forma, pela pandemia?
Que tal, a partir de amanhã, e sempre que for possível, você começar a comprar apenas dos estabelecimentos do seu bairro? Depois conte pra gente como foi a experiência! Comunidade, pertencimento, segurança ativa, fachadas ativas, economia local forte. Isso sim é uma cidade inteligente! Confira o artigo: “Agonia das lojas de rua prejudica a saúde das cidades, alerta estudioso”