Qualquer pessoa que caminhe pelo centro de Caxias do Sul com o olhar atento para a cidade e disposta a interagir com o que vê ao redor já encontrou um recado em uma árvore. Quem se locomove de ônibus e está com o coração aberto para receber uma frase jogada ao mundo, também. E o resultado é sempre o mesmo: 'pôxa, parece que isso foi escrito para mim'. E será que não foi mesmo? Quando pega a sua caneta, o grampeador, os fios e os tecidos, Teca sabe que está escrevendo para alguém. E que a mensagem chegará ao destinatário. No dia em que Caxias do Sul completa 133 anos, vamos contar a história dela, essa personagem que enfeita a cidade e ilumina a vida de quem se permite ser tocado pelas suas frases.
Alexandra Faccio, a Teca, nasceu em Caxias do Sul, mudou-se para Capão da Canoa e voltou para cá. Durante essa trajetória, lá perto do mar, participou de um grupo de jovens da igreja. Foi quando começou a escrever mensagens para enfeitar os quartos de participantes dos retiros. Nunca mais parou. O grupo de jovens ficou para trás; Capão, também. Mas as mensagens, não. Teca voltou à sua cidade-natal e trouxe na bagagem o hábito de escrever para as outras pessoas. Não apenas porque “adora a letra, a escrita”, mas também porque os retornos fazem tudo valer a pena. “Nos retiros, as pessoas começaram a procurar as minhas mensagens, porque diziam que eram o que precisavam ler. Eu não sei o que acontece, não consigo explicar, mas é assim o tempo todo”, conta ela.
São 33 anos e uma quantidade desconhecida de mensagens escritas. E apenas um retorno ruim, que ensinou a lição e a fez mudar a postura. Entregar para as pessoas nunca foi a principal forma de ela espalhar as suas frases, porque ela entende que é panfletagem. Porém, quando percebe algum sinal, faz isso: “A pessoa estava me olhando, eu tinha os papéis na mão e entreguei. Ela não gostou e me falou palavras que não foram boas de ouvir. Então, hoje, eu só entrego para quem eu sei que gosta, que já conhece o que eu faço. E também para quem pede, muitas pessoas chegam e falam: ‘o que tu tem pra mim hoje, Teca?’.
O restante - que é a maior parte - é espalhado pelas árvores do caminho que ela percorre a pé na área central. Os ônibus viraram palco da sua arte mais tarde, meio que por acaso, em um dia em que ela estava novamente perto de casa com uma mensagem na mochila. “Eu saio de casa com 35 e preciso voltar sem nenhuma, porque a energia de hoje não vale para amanhã. Quando sobrava uma, eu acabava dando para o porteiro do prédio, mas ele já não aguentava mais”, conta, divertindo-se. Foi então que, um dia, ela decidiu prender perto da porta do ônibus, acreditando que alguém encontraria e teria seu dia iluminado.
Iluminar o dia de alguém, esse é o grande objetivo. Teca afirma que é isso que quer, não tem a pretensão de mudar o mundo, apenas quer entregar paz e algo palpável em um mundo tão digital. Seja nas árvores, nos ônibus ou com os adesivos, que chegaram depois e hoje podem ser vistos colados pelo centro, porém, apenas em lugares onde ela tem certeza que pode fazer isso. “No passado, ganhávamos uma bala e guardávamos o papel como recordação de um momento especial, hoje, nada é físico. Eu adoro a escrita e as minhas mensagens são uma recordação para quem encontra e vê sentido”, completa.
Os papéis são reaproveitados, e os tecidos que sempre estão presos neles, e permitem que, de longe, se reconheça que é uma mensagem dela, são doados. “Para buscar, eu preciso pagar duas passagens, então eu tenho um custo. Mas vale a pena”. A mãe, Similda Faccio, de quem ela cuida nos dias de semana e tem sua maior atenção, é a responsável pelos grampos. E, assim, as mensagens ganham forma e vão para o mundo. “Um dia, encontrei um guri de 14 anos que me contou que tem um caderno em que anota todas as minhas frases que encontra”, relata, emocionada.
A emoção, inclusive, apareceu em diversos momentos da entrevista, realizada em pleno coração de Caxias do Sul. Teca faz algo genuíno que causa reações repletas de boas energias. “Eu estou muito feliz em te conhecer pessoalmente”, disse uma funcionária do café onde aconteceu a conversa. Teca se emocionou. De novo. E de novo depois. O tempo todo. Disse que não tem dimensão do que significa, apenas ouve o que as pessoas dizem sobre a importância dela. No último sábado, antes da entrevista, havia ido decorar a escadaria do Centro de Cultura Ordovás a convite da organização do evento de Yoga que acontecia por lá. Guardou algumas mensagens para pendurar nas árvores da Praça Dante enquanto era fotografada para esse post. E, depois, novamente emocionada, seguiu o seu caminho para outro evento.
Aos finais de semana, essa é a sua vida. Com alma hippie, como se autodefine, Alexandra, que recebeu o apelido de Teca do seu pai, Nabor José Faccio, é uma personagem de Caxias do Sul e deixa o seu recado na cidade o tempo todo. Se encontrar com ela, pare, converse, peça uma mensagem. Se ela ainda tiver, vai lhe entregar. Ou, então, caminhe pelo centro atento. Se você precisar ler algo, a mensagem vai estar em uma árvore e nem vai precisar de conversa, porque, parafraseando Teca, “o silêncio do papel vai tocar o seu coração”.
Feliz aniversário, Caxias do Sul. Que a humanidade da Teca esteja cada vez mais presente nas tuas ruas.
Com carinho, Vivacidade Lab
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